
Na Leiria Provinciana somos, positivamente, bafejados pela proximidade com Fátima. A Fátima dos pastorinhos, dos milagres, da igreja, dos beatos, dos pés, mãos, braços, cabeças e barrigas de cera incensadas nas piras abençoadas do santuário. Um negócio infindável e sem crises capitalistas, que promete o céu a partir desta vida terrena, mas devidamente pago. O céu, é claro, tal como a banal vida terrena, um BigMac ou até uma multa de estacionamento, custa dinheiro.
Qualquer leiriense minimamente viajado admira Barcelona, Londres, Paris ou Nova Iorque. Cidades de uma energia inesgotável , com dias sem fim e uma noite vibrante, interminável. Cidades onde o dia se confunde com a noite, onde a vida não acaba ao por do sol.
Nenhum leiriense que conheceu estas e outras cidades similares nega estas virtudes, as vidas descomplexadas, a abertura e dinâmica dos seus habitantes, a visão futurista dos seus dirigentes.
Mas, a realidade leiriense é mais complexa. Nenhuma destas pessoas conhecedoras e aproveitadoras destas outras cidades consegue projectar, e porque não, copiar este dinamismo admirável na sua cidade. Para estas pessoas, bem como para o poder instituído, esta é uma realidade distante, admirada mas não replicável ou desejável entre portas.
Assim, Leiria é uma cidade fechada. Há de facto emprego, iniciativa privada e sucesso empresarial de uma forma generalizada. Mas não há visitantes de fora, não há abertura e a percepção de que o entretenimento também gera riqueza. Aquilo que é admirado noutras cidades é condenado em Leiria. Não se pode comer depois das duas, não se pode estar num bar a confraternizar com amigos depois das duas e muito menos aproveitar uma simples esplanada a estas horas. Para continuar um jantar de amigos somos obrigados a ir a uma das anémicas ofertas nocturnas abertas após o beato horário das duas horas da manhã.
Qualquer destas pessoas conhecedoras do mundo para lá de Leiria, admira a famosa "movida" de Barcelona ou Madrid, a "open minded" Amsterdão, a glamourosa vida nocturna de Paris ou a imparável dinâmica noctívaga de Nova Iorque e a cosmopolita Londres. Não vale sequer falar de Lisboa, Porto, Coimbra ou Braga. Leiria é diferente de qualquer uma destas cidades. Em Leiria, tudo é formatado e boçal: bares até às duas, discotecas até ás quatro e tudo terá de estar na caminha por volta das seis.
Vivemos numa cidade em que até uma roulotte de bifanas tem de fechar às quatro, porque é considerada uma ameaça, algo a evitar, algo sem interesse e até mesmo perigoso para a cidade. Em Leiria há a noção que a polícia dita as regras. Em Leiria há a noção que a polícia persegue apenas os bares e discotecas e esquece tudo o resto. Permitam-me acrescentar que, não esquece a caça à multa em alguns estacionamentos da cidade enquanto faz vista grossa a outros.
Mas a realidade é ligeiramente diferente.
Enquanto a policia faz cumprir rudemente os horários ditados pela câmara em bares de estudantes e pequenas tascas sem importância, ignora os inúmeros bares de alterne ou de strip espalhados pela cidade e arredores. Mas digam-me que cidade é esta em que não se pode comer uma bifana fora de horas, não se pode beber uma imperial com os amigos depois das duas mas, certamente, pode-se ter o prazer de ver uma polaca ou brasileira num strip sensual. Sem constrangimentos de horários, em botequins de higiene terceiro-mundista. Com alguns euros adicionais pode-se aproveitar muito mais que o prazer visual e avançar para uma prova carnal destes acepipes internacionais. É o mais próximo que esta Leiria provinciana se permite aproximar destas cidades europeias e americanas.
Leiria não sai à noite... mas vai às putas.